Ivan Ribeiro do Vale Junior.
Sommelier.
1 - Rearrolhar um vinho. Você sabe o que significa?
Certo dia, dialogando com um confrade, comentei sobre o fato de que, algumas vinícolas no Brasil e do Mundo, praticavam o rearrolhamento dos vinhos. O mesmo ficou surpreso com tal situação. E, como já tinham alguns anos que havia lido e visto sobre o referido assunto, procurei me aprofundar e pesquisar a atualidade da referida prática. Para minha surpresa, o rearrolhamento do vinho foi recentemente comentado pelos respeitados Luiz Cola e Marcelo Copelo, ao publicarem artigos que comentavam sobre a situação em questão. Assunto, inclusive tratado pela Revista Adega comentando sobre o referido serviço da Vinicola Australiana Penfolds.
Luiz Cola, no seu artigo “10 safras de 10 décadas diferentes: CVNE (Rioja)” (https://blogs.gazetaonline.com.br/vinhosemaisvinhos/2010/09/10-safras-de-10-decadas-diferentes-cvne.html ) comenta sobre a incrível experiência de ter participado de uma degustação de 10 Safras de 10 décadas diferentes, representada pelos vinhos de 1917, 1928, 1939, 1947, 1953, 1968, 1970, 1987, 1995 e 2004, todos em perfeita condições de apreciação, que honrou da tradição da Vinicola Compagnia del Norte de España (CVNE), e seu mais famoso vinho, o Rioja Gran Reserva, o Imperial. E, como a CVNE não pratica e é contra o rearrolhamento dos vinhos, sob a alegação de que prejudica a integridade dos mesmos e altera suas características, foi uma surpresa todos os vinhos estarem em perfeitas condições de serem apreciados e com rolhas integras.
Já Marcelo Copelo trata da matéria ao comentar sobre a forma de se abrir os vinhos antigos e com rolhas prejudicadas utilizando a PINÇA ou a TENAZ em seu artigo “A maneira tradicional de abrir velhas garrafas de Porto, sem o saca-rolhas.”
(http://www.marcelocopello.com/post/a-maneira-tradicional-de-abrir-velhas-garrafas-de-porto-sem-o-saca-rolhas ). No aludido artigo ele comenta sobre o processo de rearrolhamento dos vinhos do Porto que é praticado por algumas casas de Porto, as quais procedem ao rearrolhamento dos vinhos a cada 25 anos. Isso nos casos de Portos Vintage, visto que, a sua vida é mais duradoura do que a vida útil de uma rolha de cortiça.
Nota-se, que são dois pontos de vista contrários. O que mais intriga são os procedimentos adotados pela Vinícola Penfolds em sua Clínica de vinhos antigos. A mesma não só troca a rolha do vinho antigo, como completa o mesmo com o mesmo vinho das safras correspondentes. A aludida situação fora suscitada na Revista Adega em sua matéria “Saiba como completar o nível de vinho perdido com os anos.” (https://revistaadega.uol.com.br/artigo/vinho-velho-novo-em-folha_10180.html ) . Pois esse procedimento vem sendo realizado desde 1991 e tem o nome de “Recorcking Clinics” e consiste em clínicas de rearrolhamento com a presença de Peter Gago (Enólogo da Penfolds), o qual chega a examinar e rearrolhar mais de 500 garrafas por dia; e, de 1991 até a presenta data já foram realizados mais de 120 mil rearrolhamentos.
No entanto, todo esse procedimento é feito dentro de uma conformidade de fatores e elementos que envolvem a certeza de se abrir a garrafa, as condições que o vinho está, a cor do vinho, e demais características. Até porque, o risco que se corre ao perder o vinho com o processo é um risco calculado e devidamente alertado aos donos das garrafas que levam os vinhos para realização dos serviços. Portanto, a decisão final cabe ao dono do vinho dentro de um contexto de argumentos e exames apresentado pelo Enólogo da vinícola que está
realizando o procedimento de análise.
Mas, se achamos que apenas a Penfolds faz esse tipo de serviço, é um engano. A clínica de rearrolhamentos de vinhos foi uma criação feita pelo Château Latife-Rothschild, o qual realizou, nas décadas de 1980, mais de 2 mil rearrolhamentos. Assim como, os Château Latour e Cheval-Blanc também realizavam essas clínicas. Contudo os Châteaus bordaleses suspenderam os serviços das clínicas por força da crescente onda de vinhos falsificados. Suspeitando-se, que os serviços ainda sejam praticados de modo privado e em sigilo.
Assim, dentre as grandes, e as Casas do Porto, temos a Penfolds e a Italiana Biondi-Santi, onde o serviço de rearrolhar se denomina “Ricolmatura”. E qual seria sua opinião sobre o assunto? A minha opinião é que é um serviço que deve ser praticado, completando o vinho, se for o caso, com o correspondente da mesma Safra, evitando-se uma perda maior do precioso líquido adegado durante anos e anos. Entretanto, cuidados devem ser tomados para que se evitem fraudes ou desgaste da imagem com vinhos prejudicados. Exames necessários e que devem ser pontualmente realizados antes da investidura de rearrolhamento dos vinhos.
Por Ivan Ribeiro do Vale Júnior.
Sommelier Profissional / WSET nível 2.
2 - O Douro e seus encantos.
O mundo do vinho reserva locais mágicos e diversas culturas marcantes. Dentre essas culturas marcantes, temos a Região do Douro, que fica situada no nordeste do território português e percorre pelo vale do Rio Douro, cercada por cadeias montanhosas e fazendo fronteira com a Espanha. O que influenciou, inclusive na associação do nome da região de Ribera Del Duero, face a proximidade das regiões.
Com mais de 250 anos, relatar e transacionar dicas e formas de se aproveitar toda região, não é uma tarefa das mais fáceis. Mesmo porque, é uma região repleta de coisas para serem feitas, dotada de uma fantástica infraestrutura de turismo, com muitos hotéis, restaurantes, vinícolas, agregada a uma paisagem belíssima.
Uma das grandes promessas, e que elevou em grandeza a Região do Douro, foi a produção do Vinho do Porto, que é um vinho fortificado e único produzido nessa região. Os quais podem chegar a uma guarda demais de 200 anos.
Essa produção deu início em 1756, quando começaram na região do Douro a produção de vinhos com elevada qualidade. Alterando a paisagem da região, transformando-a em vales esculpidos (como pode ser visto na imagem acima), que ganharam a classificação de Patrimônio da Humanidade pela UNESCO.
Com todo esse crescimento, a abundância de castas no Douro tornou-se notável, e algumas das videiras mais antigas permitem produzir vinhos com uma estrutura e complexidade únicas. Dentre as principais castas na região do Douro, temos: a Touriga Franca, a Touriga Nacional, a Tinta Barroca, a Tinto Cão e a Tinta Roriz. Produzindo, tanto o vinho do Porto, como outros tantos vinhos tintos, brancos e roses, com a mesma qualidade e excelência aplicada pela região.
A Região do Douro, conhecida como Douro Vinhateiro, está dividida em três sub-regiões, à saber: Douro Superior (região de Foz Côa), no Cima Corgo (região do Pinhão) e no Baixo Corgo (região da Régua). Onde as Vinícolas se adequam e se moldam nessas regiões de forma organizada e produzindo belos vinhos.
Como dizemos acima, nem só de Vinho do Porto vive a região do Douro. Os vinhos durienses dividem-se em três grandes categorias: Tintos, Brancos e Rosados. Os vinhos tintos tem na sua gama maior a composição com a reunião de algumas castas, tais como: a Touriga Nacional, a Touriga Franca, a Tinta Roriz (Aragonez), a Tinta Barroca e o Tinto Cão, que são as castas com maior destaque na região.
Esses vinhos, quando jovens, podem ser consumidos logo após a vindimas, sendo vinhos fáceis de beber, que apresentam geralmente coloração rubi, com aromas frutados e harmonizando bem com carnes e massas de molhos vermelhos. Fato que, nos vinhos Tintos de guarda, e que carregam a chancela de “Reserva” ou “Grande Reserva”, possuem uma coloração e aromas mais intensos e fortes, segurando muito mais carnes com maiores temperos e condimentos, que não apagam a composição desses vinhos.
Quanto aos vinhos Brancos, que são bebidas para acompanhar peixes, mariscos e crustáceos, são oriundos das castas como: a Malvasia Fina, o Viosinho, o Gouveio e o Rabigato. Seguindo a mesma linha de pensamento dos vinhos tintos, quanto aos vinhos jovens e aos demais envelhecidos ou que carregas os rótulos de “Reserva” ou “Grande Reserva”. Fatores que poderão contribuir com a mudança da coloração e da intensidade desses vinhos.
Os rosados foram agregados a pouco tempo na produção duriense, sendo em menor número sua produção. Assim como, já podemos encontrar as produções do Moscatel, do Espumante do Douro, o vinho novo e os vinhos de sobremesa com colheita tardia. Inovações e avanços para região.
Dentre tantas vinícolas da região, podemos destacar algumas, em face da região que cada qual está localizada, conforme descrevemos acima, e está esculpida no mapa. Segue algumas das vinícolas mais apreciadas da região:
QUINTA DO SEIXO:
Considerada uma das melhores vistas sobre o rio e sobre os vinhedos. A Quinta do Seixo fica localizada na sul do rio Douro, no Cima-Corgo, em frente da Quinta do Porto. A propriedade é da empresa Sogrape Vinhos e do grupo Sandeman, mas originalmente da família de Antónia Ferreira, a Ferreirinha, desde 1987, a qual investiu em 2007, aproximadamente €7.5 milhões num moderno centro de vinificação, onde são produzidos Vinhos do Porto e do Douro de elevada qualidade. Um projeto inovador não só pela alta tecnologia utilizada na adega, mas também pela criação de um circuito turístico que é, ao mesmo tempo, educacional e atrativo.
A Quinta do Seixo oferece uma visita guiada à adega, à garrafeira e aos lagares robóticos, complementada por meios multimídia que explicam todo o ciclo de produção do vinho e por uma prova de Vinho do Porto (colheitas selecionadas) numa sala com uma vista panorâmica sobre o Douro. São cerca de 108 hectares de área total, tendo a produção concentrada em 71 hectares de vinhas selecionadas, plantadas em patamares e sob o sistema de vinha ao alto. As castas predominantes são a Tinta Roriz e a Touriga Nacional. Como a empresa Sogrape Vinhos detêm outras Quintas da região do Douro, e pela modernidade que a adega da Quinta do Seixo está equipada, esta acaba por receber e vinificar as uvas dela mesma, bem como oriundas da Quinta do Porto, Quinta do Caêdo e Quinta do Vau, ou seja, todas as Quintas da Sogrape localizadas na sub-região do Cima Corgo e de uvas que são compradas nas mãos de lavradores com quem a empresa tem contratos de fornecimento.
(CONTATOS: Tabuaço 5120-495, Valença do Douro – Portugal / visitas.seixo@sandeman.com
/Tel: +351-254 732 800 - Fax: +351-254 732 349).
QUINTA DO BONFIM:
A Quinta do Bonfim é o local ideal para degustar um bom vinho do Porto sentado numa bela esplanada com vista sobre o Douro. A Quinta do Bomfim é uma das melhores propriedades do Vale do Douro e os seus vinhos ontribuem para os vinhos do Porto da Dow’s desde que foi adquirida pela empresa, em 1896.
(CONTATOS: Endereço: PInhão, 5085-060 Pinhão, Alijo, Portugal / Telefone: +351 254 730370).
QUINTA DO PORTAL:
A Quinta do Portal, em Celeirós, foi distinguida recentemente com vários prémios vinícolas, entre eles o melhor vinho português do ano 2016. A Quinta do Portal também tem um restaurante e uma casa de turismo rural, A Casa das Pipas, onde os turistas se podem alojar para explorar a região.
(CONTATOS: Endereço: Celeiros Do Douro, 5060-909 Sabrosa, Portugal / Telefone: +351 259 937 000).
QUINTA DO TEDO:
A Quinta do Tedo está localizada no encontro entre o rio Douro e o o rio Tedo, numa propriedade do Século XVIII. Fabricantes de excelentes e reconhecidos rótulos de vinhos e vinhos do Porto, sua propriedade é dotada de acomodações que podem ser reservadas com antecedência e desfrutar um pouco mais de tempo nessa belíssima propriedade. Marcações através do email info@quintadotedo.com, para visitar e provas e para se hospedar através do e-mail: reservas@quintadotedo.com . Ainda dispõe de vinhos para compras direta na própria visitação ou hospedagem, com visitação guiada e dirigida. Muito apreciada e recomendada.
QUINTA DO VALLADO:
A Quinta do Vallado é uma das mais antigas e melhores vinícolas do Douro, construída em 1716 e pertenceu à lendária Dona Antónia Adelaide Ferreira e mantém-se até hoje na posse dos seus descendentes, oferecendo, desde 2005, hospedagem para seus visitantes. Em 2209 a Quinta do Vllado resolveu estender seus negócios dentro da região do Douro e comprou a Quinta do Orgal, ampliando seu Wine Hotel para a referida região em 2015. Nessa nova região, mais afastada de regiões ocupadas do Douro, já tem plantadas mais de 30 ha. de vinhas, com as castas: Touriga Nacional, Touriga Franca e Souzão.
Detentora de uma das linhas mais apreciadas e premiadas da Região do Douro, é, sem dúvida alguma, uma das regiões mais recomendadas e que devem ser visitadas sem falta. Tendo na sua linha de entrada alguns rótulos sensacionais, sem contar com os demais vinhos e os seus vinhos do Porto de 10, 20, 30 e 40 anos. Além dos Portos muito Velhos de 1866 e 1888, os quais devem ser verdadeiros néctares degustáveis. Recomendo todos eles.
Para quem procura um tourdetalhado e informativo, todos os dias às 11h30 ou às 15h. Para marcações, mande um e-mail: reservas@quintadovallado.com. Tanto para agendamento das visitações como para hospedagens. As reservas das hospedagens também podem ser feitas através do site www.quintadovallado.com.
QUINTA DA PACHECA:
A Quinta da Pacheca é uma das melhores vinícolas do Douro em atenção e entretenimento para com os clientes e visitantes. Existe uma gama de programações que podem ser realizadas dentro dela, desde simples iqueniques até casamentos e provas dirigidas e guiadas de vinhos, dentre tantas outras descritas no site da vinícola, onde podem ser realizadas as reservas para cada evento.
Com uma linha de vinhos brancos, tintos, rosés e portos, os mesmos podem ser adquiridos na própria Quinta e no site da mesma, como preços bem acessíveis ao que eles entregam em seu conjunto. Reservas pelos e-mails: reservas@quintadapacheca.com ou enoturismo@quintadapacheca.com.
QUINTA DO CASTRO:
A Quinta do Crasto é soberba e merece bem ser considerada uma das melhores vinícolas do Douro. Com uma localização privilegiada na Região Demarcada do Douro, no Norte de Portugal, a Quinta do Crasto é propriedade da família de Leonor e Jorge Roquette há mais de um século. Tal como as grandes Quintas do Douro, a origem da Quinta do Crasto remonta a tempos longínquos na história do país: o nome Crasto deriva do latim castrum e significa “forte romano”.
Mesmo com toda dificuldade de acesso, a visita vale a pena, pela vista magnífica e a prova de vinhos. Vinhos de primeira linha e maravilhosos. A Quinta do Crasto possui hoje uma gama de produtos muito completa, desde Vinhos do Douro brancos e tintos, Vinhos do Porto de categorias especiais e Azeites Extra Virgem, com diferentes
níveis de preços. As visitas são exclusivas e não de grupo, ou seja, se fizer uma marcação, a visita será apenas
para si, podendo serem finalizadas, tanto com um almoço ou jantar, ou num passeio de barco pelo rio Douro. Existem as opções de hospedagens e visitação na loja da Quinta onde tem acesso a todos os produtos.
Reservas através do e-mail: enoturismo@quintadocastro.pt ou pelo Telefone: +351 254 920020
Assim, aproveite seus dias e suas férias e marque uma viagem para a Região do Douro em Portugal para se encantar com todas essas belezas e maravilhas que ela pode lhe oferecer. Passeios, jantares, almoços, belíssimos vinhos, paisagens enigmáticas e uma beleza inebriante. Visite Portugal e aproveite nossas dicas, faça suas reservas com antecedência.
3 - Dia da Merlot – 7 de Novembro.
Hoje comemoramos o dia da Merlot. A Merlot é uma casta de origem Francesa, de uva tinta, fruto da Vitis vinifera. É uma das responsáveis pelas características dos vinhos tintos de Saint Émillion, na região de Bordeaux, na França. Apesar da casta geralmente ser utilizada em vinhos para serem consumidos jovens, as vinícolas de Saint Émillion garantem rótulos de longevidade, como são os casos dos vinhos Cháteau Cheval Blanc e Cháteau Pétrus.
Mesmo sendo uma casta jovem, descoberta apenas no século XVII, hoje ela é a segunda uva tinta mais cultivada do mundo. Dessa produção mundial de Merlot, metade dela vem da região de Bordeaux (onde ocupa o dobro de
hectares cultivados com Cabernete Sauvignon). O restante dessa produção está em diversos países, tais como: Israel, Romênia México, Califórnia, Nova Zelândia, Suiça, Canadá, Itália, Chile, Uruguais, Argentina, e Brasil. Inclusive no Brasil, na minha opinião, teve uma adaptabilidade fenomenal em seu contexto geral. Existem duas polêmicas quanto a casta Merlot, uma em relação a origem do nome dela, e outra quanto a data de sua colheita. No que diz respeito à colheita, podemos dizer que temos dois tipos de padrões diversos, um praticado no mundo e outro na França. E, quais seriam as diferenças dessas situações? Vejamos:
Pelo Padrão Mundial, assim definindo, é o fato de que a Merlot amadurece muito rápido, podendo ser colhida mais cedo do que na Europa, evitando-se chuvas e outros problemas climáticos que possam afetar o resultado final da mesma. Essa prática é a mais usada no Novo Mundo, o que atrai para a uva, aromas intensos, claramente frutada, que remete a frutas negras maduras, como ameixas e mirtilos; taninos macios e maduros; e, menor acidez.
O outro padrão, podemos dizer que é o praticado na Europa e definido pela França, que permite que a casta fique mais tempo antes de ser colhida, para que a mesma atinja a maturidade suficiente e padrão que conceda mais elegância e leveza, tornando-a mais fresca e longeva. No Brasil se aplica o mesmo método da França, considerado a colheita no período ideal, e que trás aroma delicados, frutado, com a presença de frutas frescas, com pouco mais de acidez (morango, framboesas) e taninos firmes. A Merlot, pode ser utilizada tanto de modo varietal como blend. A passagem por madeira deixa o vinho muito mais elegante e macio. Abra seu Merlot e comemore o dia de hoje.
4 - O CAVA e a COPINNART, novos termos.
Após uma viagem mística e fantástica por diversas regiões da Espanha, o amigo e confrade Jarbas Amoedo, contando-me das novidades desse belíssimo País, trouxe-me a recém criada D.O. COPINNART. Seria o fim do CAVA? Não, na verdade é uma nova Denominação de Origem criada por alguns produtores para buscar maior qualidade do produto, visto que, as regras da D.O. do CAVA não vinham sendo atendidas e permitiam uma degeneração da imagem do produto.
O que vem a ser o CAVA. O CAVA é um espumante Espanhol, criado na primeira metade do Século XIX e teve seu nome registrado pela primeira vez em 1959, através da descrição do termo criado em CAVA. Tal situação ocorria em decorrência da necessidade dos espumantes serem mantidos em cavas para suportar o calor excessivo espanhol. Daí o termo cava foi oficialmente reconhecido em 1986, quando foi atribuído aos vinhos espumantes feitos pelo método tradicional.
As diversas regiões que produzem o CAVA na Espanha, fizeram com que a sua D.O. abrangesse todas as regiões que produzem o espumante, não se limitando apenas a determinado local específico. Assim, mesmo com a produção de 85% dos CAVAS na região da Cataluña, o CAVA pode ser encontrado, também, nos municípios de Alava (Pais Basco), Zaragoza (Aragon), Burgos (Castilla y Leon), Badajoz (Extremadura), La Rioja, Navarra, Valencia, e na Cataluña, em suas 4 províncias: Barcelona, Girona, Lleida e Tarragona. Muito embora, em sua maioria, o CAVA seja produzido com castas autóctones da Espanha, conforme falaremos em breve, no seu início foram tentadas as produções da mesma com as uvas Chardonnay e Pinot Noir (existindo, ainda, algumas regiões que produzem o CAVA com essas uvas), as quais não foram levadas adiante em razão da falta de tecnologia para fermentação à frio que suportasse o calor da Espanha.
Hoje o CAVA, além da exceção acima relatada, é produzida com as uvas Macabeo (que é a mesma Viúra) (contribui com doçura e perfume), Xarel-lo (contribui com corpo e estrutura) e Parellada (contribui com um fino frescor e aroma). Além dessas, são permitidas as uvas Pinot Noir, Garnacha Tinta, Monastrell, Trepat (apenas permitida para os CAVAS rosés), e as brancas Chardonnay e Malvasia (também chamada de Subirat Parent).
Assim, diante do crescente mercado e das diversas regiões, alguns produtores do CAVA, reuniram em 2017, através do Instituto del Cava, e criaram o CPC ( Cavas de Paraje Calificado), sendo o início das mudanças que vieram a ocorrer em fevereiro de 2019.
O CPC é um selo destinado ao CAVA de qualidade superior e que deve cumprir determinadas exigências para que possa utilizar tal selo. Quais são elas?
- Área menor qualificada;
- Produção máxima por hectare 8.000 kg;
- Colheita manual;
- Vinhedo com mais de 10 anos;
- Vinificado na propriedade;
- Rendimento de extração por hectare: 4.800 litros;
- Classificação do vinho de base;
- Maturação mínima em garrafa: 36 meses;
- Cava safrado;
- Elaborado no tipo Brut;
- Aprovação na degustação de classificação;
- Controle qualitativo específico; e,
- Rastreabilidade abrangente do vinhedo até a sua comercialização.
Esse selo foi publicado em Março de 2017, e após a inscrição de alguns produtores que se mostraram interessados em fazer parte dessa seleção, foram submetidos às análises dos CAVAS produzidos pelos mesmos e se cumpriam com todas as exigências determinadas no Decreto. No entanto, alguns produtores, preocupados com a baixa qualidade de alguns produtos e das exigências da D.O. do CAVA, mesmo diante das exigências determinadas pelo selo CPC, resolveram romper no inicio do presente ano com a D.O. do CAVA e criaram a COPINNART, que consiste num novo tipo de espumante Espanhol com exigências e determinações específicas.
A COPINNART foi criada em 2015 através de pequena parcela mais exigente de produtores da região de Penedês, que resolveram criar essa D.O. para distinguir vinhos espumantes de alta qualidade produzidos nessa região, levando-se em consideração toda a produção da propriedade e não apenas os vinhos específicos na elaboração das regras da Associação.
Assim, a Associação dos Produtores de Vinhos COPINNART, fundada em 2015, teve seu reconhecimento em final de 2017 pela EU (União Europeia). COPINNART virou uma marca coletiva da UE formada por nove vinícolas da Região de Penedês que produzem seus vinhos espumantes a partir de uvas 100% orgânicas colhidas à mão e vinificadas em sua totalidade na propriedade. O espumante também deve ser submetido a 18 meses de estágio, no mínimo. Por essa razão, a marca foi dotada de uma das mais rígidas regulamentações de uso do setor o que acaba excluindo os maiores produtores de Cava de participarem da associação e de rotularem seus vinhos como Corpinnat ou D.O. Penedès.
O nome Corpinnat é formado pela combinação de duas palavras em catalão e significa “coração de Penedès”. (Penedès é uma região da histórica Catalunha onde se produz os vinhos). Os produtores da CORPINNART que fazem parte da associação são: Gramano, Sabaté i Coca, Mas Candi, Ilopart, Torreló, Nadal, Can Feixes, Recaredo e Julia Mernet. Essas empresas deixaram de fazer parte da D.O. do CAVA, uma vez que o Conselho Regulador considerou que ambas as marcas são incompatíveis para serem utilizadas no mesmo rótulo. Devendo cada qual seguir seus próprios ordenamentos. Desta forma, hoje temos a D.O. do CAVA, formado pelo Conselho Regulador do CAVA, que em 2017 criaram o selo CPC com as determinações e exigências que citamos acima, e temos a COPINNART, que é formado por nove produtores da Região de Penedês e foi criada pela Associação dos Produtores de Vinhos COPINNART. Cada qual seguindo suas regras, exigências e determinações, não sendo permitido que uma utilize os selos e determinações da outra. Quem ganha são os consumidores e apreciadores do mundo do vinho, com a melhora da qualidade dos produtos e a busca das vinícolas em implementar determinações e exigências cada vez maiores pela qualidade superior dos vinhos que são produzidos.